sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A história de Édipo Rei pelo avesso

Édipo, o objeto

Em sua transcriação Óidipous, filho de Laios, Antonio Quinet introduz na estrutura da tragédia de Sófocles, Édipo Rei, o tema da maldição herdada por Édipo de seu pai Laios. Trata-se de maldição recebida por Laios, após ter se apaixonado e raptado Crísipo (jovem filho de Pélops que era seu anfitrião e tutor), de que ele, Laios, seria morto por seu próprio filho e sua descendência seria desgraçada.
Esse tema está presente em Ésquilo, na trilogia de trágédias Laio, Édipo e Sete contra Tebas assim como na peça satírica que as acompanhava , A Esfinge, das quais apenas Sete contra Tebas chegou até nós.
Sófocles com Freud
Em Édipo Rei de Sófocles (que tudo indica não fazer parte de uma trilogia) há uma supressão do tema da maldição paterna que Édipo herdou. E a desmedida do pai está velada. O que Sófocles acentua é a descoberta feita por Édipo de que ele matou o pai e casou com a mãe.
Freud toma a peça de Sófocles, centrada nesses dois crimes, para estabelecer o complexo de Édipo articulando o desejo pela mãe com o desejo de matar o pai, obstáculo à realização do desejo incestuoso.

Ésquilo com Lacan

A dívida simbólica
Em Óidipous, filho de Laios, a partir de Ésquilo e de Lacan, Antônio Quinet coloca a ênfase na herança simbólica inconsciente (a transmissão da história paterna) que determina os atos do sujeito Édipo. Trata-se da dívida simbólica que os filhos pagam pelos crimes dos pais a nível inconsciente.

O desejo do Outro
Quinet acentua também a questão do desejo dos pais de Édipo em relação ao filho , principalmente o desejo de Laios de matá-lo.
Ao utilizar a teoria do " objeto a " de Lacan, Quinet mostra o lugar de Édipo como o dejeto do desejo do Outro: ele foi vítima do filicídio, seus pais tentaram matá-lo quando pequeno. E mais tarde, depois de ter sido rei, ele volta a ser um dejeto, expulso de Tebas. Édipo experimentou, como rei e esposo da mãe, o lugar de objeto valioso, objeto de gozo dos tebanos todos e foi a causa da prosperidade e da riqueza.

De objeto precioso a dejeto
Assim Édipo experimentou as duas valências do sujeito como objeto do Outro: objeto precioso, desejado, amado e importante e, por outro lado, dejeto, escória, rebotalho. Assim, foi utilizado na transcriação da peça de Sófocles, a indicação de Lacan de que o herói da tragédia grega é o "objeto a."

De sujeito a objeto
Se em Édipo Rei ,de Sófocles, vemos Édipo como sujeito do desejo (mortífero e sexual), em Óidipous, filho de Laios, vemos Édipo como objeto de desejo (mortífero e sexual).
Se em Édipo Rei, de Sófocles, vemos o heroi levado pelo desejo de saber (sua identidade e sua origem), em Óidipous, filho de Laios, ele está cego pela paixão da ignorância (de saber de sua herança simbólica).

Ela se esfinge de peste
Em Édipo Rei, de Sófocles, Édipo decifra o enigma da Esfinge.
Em Óidipous, filho de Laios, Óidipous acerta por sorte o enigma da Esfinge, mas esta não morre, e volta transformada em peste.
Óidipous, filho de Laios mostra que o enigma da Esfinge é o próprio enigma do Édipo. O homem em questão é o próprio Édipo.













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