sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A ignorância é a peste

Óidipous, a tragédia do não saber











Óidipous, filho de Laios
mostra a ambigüidade do sujeito
em relação ao saber.
Óidipous tem em seu nome e em seu corpo a marca do saber
(oida = eu sei; pous=pé).
E, no entanto, ele não sabe.

Óidipous sem saber mata o pai e possui a mãe; tem com ela quatro filhos.
Óidipous não sabe quem são seus pais, não sabe de sua origem; não sabe que seus pais tentaram matá-lo; não sabe porque foi vítima dessa tentativa de filicídio; não sabe do crime ético e sexual de seu pai, não sabe da maldição herdada.
Óidipous não sabe, que é ele mesmo o assassino procurado, que é ele mesmo a causa da peste.

Óidipous agiu, ou foi agido, por todo esse saber do qual não sabe. Ou sabe?

Esse saber não sabido é a marca do saber do Inconsciente. E do qual o sujeito se defende. À defesa do saber inconsciente, Freud deu o nome de recalque. A exemplo da tragédia grega, o teatro, segundo Artaud, é feito para permitir que nossos recalques adquiram vida” (O teatro e seu duplo, Martins Fontes, p. 3)

A tragédia de Sófocles é a tragédia do desvendamento da verdade do sujeito, o que fez Freud compará-la ao processo analítico. Pouco a pouco o sujeito descobre seus desejos criminosos: ele também é um Édipo.

Será que Óidipous quer saber?

SIM. A peça é toda ela uma investigação regida por Óidipious para saber quem é o assassino de Laios e em seguida quem são seus pais e qual é a sua origem? Ele foi movido pelo “desejo especulativo” (François Dastur) ele “quis saber demais” (Hölderlin) e essa teria sido sua desmedida (hybris).

NÃO. Óidipous não quis saber. Ele foi até o ponto de saber quem eram os pais mas não foi além. Ele não quis saber do gozo criminoso do pai, Laios, não quis saber da maldição herdada. Ele não foi movido pelo desejo de saber (o qual o próprio Lacan coloca em dúvida sobre sua existência) mas pela paixão da ignorância.

São três as paixões fundamentais do homem, segundo Lacan: o amor, o ódio e a ignorância. Óidipous é possuído pela três: tripous. O não querer saber é a pior dela e leva o sujeito ao pior.
Iokaste e o pastor imploram, ordenam a Óidipous: Pare a investigação!. Ele ele continua e descobre.
"Sou triplo equívoco: ao nascer, ao matar e ao casar." - diz Óidipous.
Mas a ordem feroz da ignorância permancerá.


A atualidade dessa peça desvela a importância de saber de seu desejo, de sua origem e do Outro num mundo científico-capitalista em que a ignorância da subjetividade é crassa e está em primeiro plano. A negação do Outro, o Inconsciente, do Outro, meu parceiro, do Outro, meu diferente.

Eis a peste com toda sua violência: a paixão da ignorância.










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