terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Pesquisa teatro e psicanálise

PESQUISA TEATRO E PSICANÁLISE:

TRAGÉDIA GREGA

RELATOR: ANTONIO QUINET
(PERÍODO 2006 – 2008)

Objetivo
O Objetivo desta pesquisa efetuada no Mestrado de Psicanálise, Saúde e Sociedade da UVA é o estudo teórico e teatral das articulações entre as descobertas da psicanálise e as teorias e práticas teatrais para chegarmos a uma proposta de encenação de uma adaptação da tragédia grega Édipo rei de Sófocles com a Cia. Inconsciente em Cena dirigida por mim.

O Inconsciente é constituído por cenas em que são trazidos ao palco do divã os acontecimentos da subjetividade.
O teatro e a psicanálise começam com a tragédia, cujo paradigma é essa peça de onde Freud apreendeu o desejo inconsciente articulado ao incesto e o ao parricídio.
O Inconsciente é teatral e trágico.
Orientado pela psicanálise efetuei uma "transcriação" dessa tragédia antiga e em seguida através de ensaios a Cia. Inconsciente em Cena estamos levando-a aos palcos para transmitir ao vivo e no real aquilo que a psicanálise e a arte ensinam.

Metodologia
Nosso projeto de pesquisa desenvolveu-se em duas etapas.
Pesquisa bibliográfica e textual
A primeira etapa foi constituída pelo estudo da bibliografia sobre: tragédia em geral, a peça de Sófocles Édipo rei, as diversas versões da peça em português, inglês, francês e grego. Essa etapa culminou na elaboração do texto Óidipous, filho de Laios. Ela contou com a colaboração de Fernando Salis, Professor Adjunto da Escola de Comunicação da UFRJ no estudo e no estabelecimento do texto, e de Izabela Bocayuva, Professora Adjunta de Filosofia da UERJ, na assessoria do grego. Enquanto isso, eu dediquei meus cursos e seminários no Mestrado da UVA e em Formações Clínicas do Campo Lacaniano sobre o assunto a partir de textos de Freud e de Lacan. Paralelamente a essa pesquisa sobre a peça desenvolvemos a pesquisa sobre a música e filosofia na tragédia com a colaboração de José Eduardo Costa Silva, Professor de Escola de Música da UEMG, Doutorando de Música da UNIRIO, compositor e alaudista a partir das indicações de Nietsche no Nascimento da tragédia e o espírito da música. O Professor José Eduardo compôs a trilha sonora original de Óidipous, filho de Laios.

Leitura dramatizada
Criação da Cia. Inconsciente em Cena
Em seguida, numa segunda etapa, criei a Cia. Inconsciente em cena e começamos as leituras e ensaios com os atores a partir do texto Óidipous, filho de Laios que culminou numa leitura pública dramatizada com trilha sonora e figurinos (da designer Valéria Naslausky), ambos originais, com o apoio da FAPERJ e da UFRJ (na qual o Professor Fernando Salis atuou como protagonista e dirigiu, com seus alunos da ECO na produção de um vídeo), para mais de 300 pessoas no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ em dezembro de 2007.







Obra em processo - pesquisa cênica, corporal e musical

O ano de 2008 foi o ano dedicado aos ensaios e à criação da encenação da peça para a qual
contamos com a colaboração de Regina Miranda, coreógrafa e Diretora do Centro Coreográfico do Rio de Janeiro e do Centro Laban de Nova York na movimentação corporal.

Lilian Chalub ensaia com Regina Miranda o suicídio de Iokaste



E do Professor Domingos Sávio de Oliveira do Mestrado de Fonoaudiologia da UVA pra o trabalho de voz. Nesse ínterim estive em Paris apresentando e testando o resultado de minhas pesquisas na Ecole de Psychanalyse des Fóruns du Champ Lacanien e em contato com o grande helenista Jean Bollack com quem mantive, antes e depois, correspondência sobre minhas interpretações da tragédia de Sófocles.





Ao longo do trabalho de direção e mise en scéne foram efetuadas quatro apresentações públicas de nossa "obra em progresso" (work in progress): em julho em São Paulo durante o V Encontro Internacional da Escola dos Fóruns do Campo Lacaniano eno Festival de Inverno de São João del Rey, sendo a última em 31/10/2008 na UVA (Campos Tijuca), em setembro na Semana de Psicologia da UVA e em outubro no Colóquio Internacional do mestrado de Psicanálise, Sáúde e Sociedade e X Jornadas de Formações Clínicas do Rio de Janeiro.



Óidipous (Marcelo Mello) e Iokaste (Lilian Chalub)



Resultados

Qual história contar?
O primeiro resultado da pesquisa foi um resultado teórico que influenciou todos os outros resultados no ensino, na transmissão e no teatro: a origem da maldição que Édipo herdou brilha por sua ausência tanto nas peças de Sófocles que chegaram até nós quanto nos textos de Freud e de Lacan. Trata-se da desmedida de Laios, pai de Édipo, que raptou Crísipo, o filho de Pélops, por quem se apaixonara causando assim a ira paterna que lançou a maldição que toda a descendência herdou. A partir daí elaboramos a importância do Pai real do gozo cujo crime é transmitido inconscientemente ao sujeito determinando sintomas e inibições.


A transcriação
A reinterpretação da peça resultou em uma original transcriação – conceito de Augusto de Campos para se referir a uma tradução criativa com liberdade do autor que a recria e transforma o texto original em uma obra sua – que é o texto Óidipous, filho de Laios. Nesta, o herói, Óidipous é levado pela paixão da ignorância e se engana ao interpretar a Esfinge ignorando que o enigma se referia à sua origem, seu passado e seu futuro. No processo de transcriação, procurei aproximar o texto de 2.500 anos para o contexto atual interpretando o papel dos deuses (Atenas = sabedoria, Ártemis + coragem, Apolo = poesia) considerando que o oráculo é o que está escrito para cada um em seu inconsciente. E a tragédia é o que herdamos dos Outros que nos antecederam e sobre a qual não queremos saber. Isso resultou num texto de acesso fácil, com linguagem coloquial que contam a história sem perder sua tragicidade.

Encenação
Quanto à encenação, nossa pesquisa aproximando a tragédia grega de nosso contexto levou-nos aos índios brasileiros e a situar Tebas, cidade de Édipo, na fronteira greco-xingu (imaginária e mítica) – isto orientou nossa proposta de encenação e nossa pesquisa de adereços, de máscaras e figurino e de cenografia optando pela caracterização dos índios do Xingu (FUNAI no Rio de Janeiro).
Teirésias (Aline de Luna) com máscara de índio do Xingu

Valorizando a música como elemento dionisíaco da tragédia, agregamos instrumentos musicais de diversas culturas e épocas apontando para a universalidade do tema e colocamos em cena dois atores músicos (uma cantora lírica) além do compositor professor que sobe ao palco para reger o coro, operar o som e tocar diversos instrumentos.

6 comentários:

  1. • À equipe do Projeto Inconsciente em Cena,
    Parabenizamos e agradecemos o espetáculo por vocês apresentado no auditório da Universidade Veiga de Almeida por ocasião do IV Seminário do Mestrado em Psicanálise, Saúde e Sociedade. Os efeitos do teatro ficaram evidentes pelo entusiasmo e satisfação observados nas pessoas presentes, o que contribuiu para uma "química" muito favorável para os trabalhos que se seguiram. Parabéns a todos e esperamos compartilhar com vocês em outras realizações conjuntas.
    Gloria Sadala (Psicanalista) – 05/11/2008

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  2. • Caro Prof. Quinet:
    Achei fantástico! Melhor que a do Pasolini!
    Marcelo Nogueira (Mestrando – UVA) – 02/11/2008

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  3. O ambiente "sujo", com coisas jogadas no chão e sempre muitos corpos somou bem para tornar a tensão da tragédia mais humana, sem aquela "solidão" apolínea que tira a cena da realidade. Ali não, tudo estava em cena, o povo de Tébas sempre presente.
    Édipo passou muito bem sua crescente angústia, com aqueles sapatos do poder ou sem eles (difíceis de usar), com ótima emissão de voz e gestual preciso, assim como Jocasta e Creonte, muito presentes e palpáveis em cena, todos fortes e marcando sua passagem com firmeza, como convém à tragédia em questão.

    A intervenção do diretor ai, descrevendo a cena, também, gostei demais, pois lembra ao público que aquilo é teatro, uma história que está sendo contada e não algo que está se passando realmente. Uma tomada bem brechtiana que acorda o público e o faz assistir distanciadamente o final da peça.
    A história acabou sendo bem contada, acho que todos devem ter entendido com clareza a história.
    Meus parabéns a todos, gostei imensamente do espetáculo, de verdade.
    Viva o teatro!
    Pedro Lage (Poeta) - 06/11/2008

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  4. A apresentação da obra em processo Óidipous, filho de Laios, com direção e dramaturgia de Antônio Quinet, é uma grande recriação cênica da tragédia de Sófocles, onde a beleza plástica do cenário e figurinos, a iluminação, aliadas à música originariamente trágica, além do texto altamente poético de Antônio Quinet a partir de Sófocles, compõem um espetáculo inesquecível. A sofisticação e a originalidade atingidas – sem perder o prumo da direção em um assunto tão grave – dão novos elementos cênicos e de conteúdo à própria tragédia tornando-a mais universal do que nunca e ao mesmo tempo mais próxima... Só a verdadeira arte sustenta tanta diferença! Como expectadora emocionada e surpreendida por tudo que vi e aprendi, desejo que ela entre em cartaz no circuito comercial o mais brevemente possível levando para o máximo de pessoas esta mensagem de talento e audácia.
    Glaucia Dunley (Psicanalista) – 03/11/2008

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  5. • A sonoplastia estava ótima; as luzes estavam impecáveis e a direção excelente.
    Foi muito legal!
    Leonardo (mestrando - UVA)– 03/11/2008

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