terça-feira, 17 de março de 2009

Teirésias entre gozo e verdade

TEIRÉSIAS:
Você não se enxerga! A escória dessa cidade é você!

ÓIDIPOUS:
Você ousa me acusar e pensa escapar ilesa?

TEIRÉSIAS:
Tenho comigo a verdade.



ÓIDIPOUS (irônico):
Você a recebeu de sua arte?

TEIRÉSIAS:
De você mesmo ao me obrigar a falar. Escute: você é o assassino procurado!

ÓIDIPOUS:
Você vai pagar caro por essas palavras

TEIRÉSIAS:
Sem saber, você se uniu aos seus e não vê o mal que fez!

ÓIDIPOUS:
Você acha que pode falar isso impunemente?

TEIRÉSIAS:
Uma vez desvelada, a verdade não pode ser afastada.

(Diálogo entre Óidipous e Teirésias no Estásimo I de Óidipous, filho de Laios)

Quem é Teirésias?
Teirésias (nome em grego de Tirésias), é o personagem na peça de Sófocles, retomado em Óidipous, filho de Laios, que se apresenta como Mestre da Verdade.


Em Óidipous, filho de Laios é uma mulher xamã que tem o dom de vidência ao incorporar uma suposta divindade, ou melhor, ao se tornar Outra (inclusive para si mesma). Ela incorpora e vê A Verdade, ao vestir a máscara (de indígenas do Xingu) para revelar a Óidipous quem ele é.

A história de Teirésias: homem & mulher

Segundo a mitologia, quando jovem, ao passear no Monte Citéron, Teirésias cruzou com duas serpentes copulando. Ao bater nelas separando-as, ele se transforma em mulher. Sete anos depois, ao passar pelo mesmo local, encontra novamente cobras copulando e, ao fazer o mesmo, volta a ser homem. Devido a essa experiência insólita de ter experimentado os dois sexos, Teirésias foi chamado por Zeus e Hera para opinar sobre uma querela do casal.e Quem goza mais no ato sexual: o homem ou a mulher? Tirésias disse que a mulher goza nove vezes mais do que o homem. Hera, ao ver assim desvelado o segredo feminino, ficou colérica e o fulminou com a cegueira. Zeus, para consolá-lo lhe deu a longevidade (para viver durante sete gerações) e o dom da adivinhação.






O gozo feminino e a verdade
A característica, portanto, principal de Teirésias é a de conhecer o gozo feminino, esse gozo do Outro, obscuro e opaco, que as mulheres guardam no segredo do inefável – eis sua grande vidência. É o que Lacan desenvolve no Seminário XX, ao situar o gozo feminino, como gozo do Outro (sempre em alteridade) e para-além do falo e da fala.
Em Óidipous, filho de Laios, Teirésias é a representante desse gozo que não se diz: uma mulher e xamã. É esse gozo experimentado, para além da linguagem, que lhe permite ser Mestra da verdade. Pois a verdade também não está totalmente na linguagem, ela não pode ser dita por inteiro. A verdade, como A mulher, é não-toda.

Um comentário:

  1. A prpósito,

    Nitezsche elabora explicitamente esta imagem: "a verdade é uma mulher recatada", que nunca se mostra por inteiro. Legal a conexão deste conceito com a personagem Tirésias.

    José Eduardo

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