sábado, 14 de março de 2009

A transcriação


O texto de Óidpous, filho de Laios, é uma transcriação da peça de Sófocles Édipo Rei com interpolações, a partir de várias versões em português, inglês, francês e cotejada com o texto grego. Transcriação é o termo de Haroldo de Campos para se referir a uma tradução cuja criação, a partir das opções do tradutor, produz um texto original. Seguimos a estrutura da peça de Sófocles (os diálogos intercalados com o coro) acrescentando: a ante-cena com o monólogo de Laios, o reino dos mortos; a cena do encontro de Óidipous com a Esfinge; o libelo de Iokaste a favor do incesto e seu monólogo suicida.
Toda transcriação é necessariamente uma interpretação. A nossa foi efetuada a partir da psicanálise e da filosofia e do ponto de vista do qual pretendemos contar a história: o tema da maldição herdada e a posição de Óidipous de ignorá-la. A maldição do Labdácidas, transmitida por Laios a seu filho e netos não está presente em Sófocles e sim em Ésquilo. Substituímos os deuses pelas qualidades que eles encarnam e consideramos que o oráculo de Delfos representa o que está inscrito no Inconsciente como determinação enigmática.
Mantivemos os nomes dos personagens e algumas palavras em grego, não só para o espectador provar o sabor da língua matriz, mas para mostrar como o nome de Édipo (Óidipous) pode ser escutado no enigma da Esfinge – o que é que tem quatro pés (tetrapous), dois pés (dipous) e três pés (tripous) – o qual é o enigma da origem, do ser e da história e do (não) lugar que lhe havia sido predestinado.
Ao longo de dois anos de pesquisa, com a colaboração de Fernando Salis e de Izabela Bocayuva e a consultoria de Jean Bollack, chegamos a uma versão do texto que, em seguida, ao longo de quinze meses de ensaios e pesquisa cênica, foi sofrendo modificações até a véspera da estréia em março de 2009.

2 comentários:

  1. SOBRE A UTILIDADE DA TRAGÉDIA NO PALCO CARIOCA

    A sensação ao final de “Oidipous, filho de Laios” pode ser descrita como um gozo de socorro. É o expurgo, o refluxo das ameaças, numa solução balsâmica, de tempero curativo, ungüento dos excessos.
    São 80 minutos onde cada um pode atualizar seu complexo de salvação, com horror e verdade, afinal a arte pode nos salvar da barbárie. É como se a tragédia nos resgatasse da tragédia. As tão concorridas comédias baratas e suas alegrias falsificadas funcionam como câmaras de gás da comunicação, o que acontece ali termina ali, saindo do teatro você já pode chorar novamente. Ao avesso, a tragédia nos devolve uma gravidade negligenciada, nos oferece uma experiência difícil, mas quando termina, lá fora, o resultado não são as mesmas lágrimas. Este Édipo atinge nossa obesidade afetiva, combate a obtusa indiferença, nos localiza onde somos, lipoaspira a ignorância.
    Olhar Copacabana depois de “Oidipous” é encontrar a si no centro do drama. Édipo não representa apenas um destino individual, ali se discute o destino de todos, deste encontro chamado civilização. Édipo protagoniza a tragédia coletiva da vida moderna. Para ele foi insuportável, seus olhos não mereciam ver mais nada. Até quando será suportável para nós ver e viver o inadmissível? Os habitantes das marquises de Copacabana, do lado de fora, pareciam sem motivos para rir.
    Douglas K

    ResponderExcluir
  2. queria tirar uma ideia p/ o teatro que tenhu que apresentar na escola....acho que com esse vídeo do oidipos conseguir ter algumas idéias p/ faze-lo...legal seu bolg em!!!...thanks

    ResponderExcluir